Resumo:Após embarcar quase toda a sua soja disponível para exportação entre janeiro e agosto, o Brasil terá uma oferta pequena para enviar ao exterior nos últimos quatro meses do ano, disse um analista da I
Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - Após embarcar quase toda a sua soja disponível para exportação entre janeiro e agosto, o Brasil terá uma oferta pequena para enviar ao exterior nos últimos quatro meses do ano, disse um analista da IHS Markit, estimando embarques totais do país em 80 milhões de toneladas em 2020.
O Brasil teria pouco mais de 4 milhões de toneladas para exportar entre setembro e dezembro, considerando a previsão da empresa de análises e dados de embarques realizados e projetados até o final de agosto pela Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), de 75,8 milhões de toneladas.
“A nossa projeção de exportação de soja está na casa de 80 milhões de toneladas (em 2020), achamos difícil chegar nos 82”, disse o analista Aedson Pereira, ao comentar à Reuters projeção da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que aponta 2 milhões de toneladas a mais.
Ele explicou que a disponibilidade de grãos está “muito enxuta” e que o esmagamento no Brasil está forte, tanto para a produção de farelo de soja para os mercados interno e externo, como para a fabricação de óleo para biodiesel, o que limita vendas externas do grão superiores à projeção.
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Além do mais, ele ressaltou que a indústria processadora de soja está “coberta” até os meses de outubro e novembro, antes de paradas para manutenção a partir de dezembro.
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Pereira lembrou que o Brasil tem apenas 3% da soja da safra velha (2019/20) ainda para comercializar, nas mãos de poucos produtores do Paraná e Rio Grande do Sul, e que os preços estão muito elevados, deixando o produto dos Estados Unidos mais competitivo.
“O foco agora vai ser os Estados Unidos, que estão vindo com uma safra relativamente boa. E tem a sinalização do acordo com a China, que ela está mostrando que vai cumprir”, acrescentou o analista, lembrando que a paridade de preços atuais não favorece o Brasil, que está mais caro.
“Não é à toa estamos vendo esse preço absurdo no mercado brasileiro, o preço da soja é o maior da história, e isso está embasado no esgotamento dos estoques nacionais”, comentou.
Os preços da soja já superaram 130 reais por saca no porto de Paranaguá (PR) neste mês e se aproximam do recorde em termos reais (deflacionados), conforme levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).
De outro lado, após abocanharem mais de 70% da soja exportada pelo Brasil no ano, a China continuará ampliando as compras no segundo semestre de 2020, afirmou o ministro da Agricultura e Assuntos Rurais nesta quarta-feira, Tang Ke, o que favorece o cumprimento do acordo chinês com norte-americanos.
Nesta quarta-feira, o governo dos EUA reportou vendas de mais 400 mil toneladas de soja para a China, com entrega em 2020/21, ano comercial que se inicia em setembro.
ESTOQUES
Questionado sobre a revisão da safra velha de soja pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que na véspera elevou em cerca de 3,5 milhões de toneladas a produção brasileira de 2019/20, para 124,46 milhões de toneladas, se isso poderia abrir espaço para maiores exportações, Pereira avaliou que não.
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Ele citou que os números de colheita da Markit para 2019/20 são ainda maiores, em 126 milhões de toneladas, e que mesmo assim não permitem exportações superiores ao esperado.
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Ele notou ainda que, mesmo com uma menor mistura de biodiesel no diesel, determinada para setembro e outubro devido à escassez de matéria-prima, não haverá aumento na oferta de soja para eventuais exportações adicionais.
Ele disse que os 10% de mistura de biodiesel, ante 12% previamente, vão abastecer um mercado do combustível pouco afetado pela pandemia e que foi marcado por grande demanda, especialmente do setor agrícola, que teve de transportar uma safra recorde em 2020.
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Além disso, ele observou que muitas empresas exportaram mais óleo de soja que o esperado, quando o mercado de diesel fraquejou momentaneamente no pico das medidas de isolamento em função do coronavírus.
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Isso também colaborou para reduzir a oferta da matéria-prima, o que fará o país passar para a próxima safra com estoques mínimos, demandando importações “recordes” de 750 mil toneladas de soja pelo Brasil neste ano, antes da chegada da nova safra --alguns players alertam para importações ainda maiores.