Resumo:A decisão recente do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma nova tarifa de 100% sobre produtos chineses reacendeu o temor global de uma nova guerra comercial. O impacto dessa medida foi imediato e sentido em diversos segmentos do mercado financeiro, especialmente no mercado de câmbio (forex), onde a volatilidade disparou em vários pares de moeda.
Publicado em 12/10/2025
A decisão recente do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma nova tarifa de 100% sobre produtos chineses reacendeu o temor global de uma nova guerra comercial. O impacto dessa medida foi imediato e sentido em diversos segmentos do mercado financeiro, especialmente no mercado de câmbio (forex), onde a volatilidade disparou em vários pares de moeda.
Mais do que apenas uma retaliação comercial, a medida de Trump gerou movimentos bruscos no dólar, ouro, ações e no comportamento de investidores, alterando drasticamente os rumos de curto e médio prazo para os traders globais.
Historicamente, em momentos de turbulência, o dólar americano (USD) atua como ativo de refúgio. Porém, após o anúncio das tarifas, a dinâmica mudou. O índice do dólar (DXY) caiu cerca de 0,7%, mesmo com o mercado acionário afundando — uma reação contrária à lógica tradicional.
Segundo Robin Brooks, membro do Brookings Institution, este é o segundo episódio recente em que o mercado interpreta as tarifas como prejudiciais aos próprios Estados Unidos. A primeira vez foi durante o chamado “Dia da Libertação”, em abril, e agora a situação se repete com intensidade ainda maior.
Essa vulnerabilidade do dólar tem explicação: com yields (rendimentos) dos Treasuries recuando, temores inflacionários persistentes e o apetite por ativos alternativos como o ouro aumentando, o apelo da moeda norte-americana como proteção de portfólio vem diminuindo.
Enquanto o dólar recua, o ouro (XAU/USD) desponta como o verdadeiro vencedor dessa reconfiguração geopolítica. Com ganhos superiores a 1,5% logo após o anúncio das tarifas, o metal precioso rompeu resistências técnicas e já se aproxima de novas máximas históricas acima de US$ 4.000 por onça.
O fortalecimento do ouro é impulsionado por dois fatores principais:
Além disso, analistas como Edward Yardeni projetam que os preços podem alcançar US$ 5.000 até 2026 e US$ 10.000 até 2028, com base no crescente interesse de bancos centrais de países emergentes pelo ouro como alternativa ao dólar.
A instabilidade provocada pela nova tarifa afeta diretamente vários pares de moedas relevantes no mercado forex. Vamos analisar os principais movimentos observados até agora e suas projeções:
Com o aumento da aversão ao risco, o iene japonês (JPY) voltou a ser procurado como porto seguro. O par USD/JPY recuou significativamente, rompendo suportes técnicos e abrindo caminho para novas quedas.
A deterioração da confiança nos ativos norte-americanos fez com que investidores migrassem para o JPY, pressionando ainda mais o dólar.
O par EUR/USD se beneficiou da queda do índice DXY. Mesmo com a zona do euro enfrentando desafios internos, o euro apresentou movimento de valorização moderada, com projeções de continuação caso a situação entre EUA e China se agrave.
No curto prazo, analistas veem resistência em 1,0800, com suporte firme em 1,0620. O rumo dependerá também dos próximos discursos de Powell e das minutas do FOMC.
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O par GBP/USD demonstrou volatilidade intensa, influenciado tanto pela fraqueza do dólar quanto por dados econômicos britânicos instáveis. A libra pode encontrar espaço para valorização caso os indicadores norte-americanos continuem decepcionando.
Ainda assim, incertezas políticas no Reino Unido limitam um avanço mais robusto no par.
Naturalmente, o par USD/CNH (dólar contra yuan offshore) é o mais diretamente afetado pela tensão entre Estados Unidos e China. O yuan foi pressionado, mas o Banco Popular da China (PBOC) intervém fortemente para manter sua estabilidade.
As medidas chinesas, como limitação na exportação de terras raras e investigações contra empresas norte-americanas, são sinais de que o país está pronto para contra-atacar economicamente, o que gera instabilidade extra neste par.
Apesar das pressões externas, a China vem demonstrando resiliência crescente. O país atingiu, em setembro, o maior nível de reservas cambiais da última década, com mais de US$ 3,33 trilhões.
Além disso, aumentou pela 11ª vez consecutiva suas reservas de ouro, o que revela uma diversificação ativa para reduzir a dependência do dólar americano.
Essa estratégia de longo prazo fortalece o yuan e aumenta a confiança dos investidores em ativos chineses, podendo alterar significativamente a dinâmica do forex em médio prazo.
A resposta da China à tarifa de Trump foi direta: a imposição de regras rigorosas para exportações de terras raras, taxas portuárias para navios dos EUA e investigações antitruste contra empresas como Qualcomm.
Essas ações geram efeito dominó nos mercados de câmbio, pois:
Para esta semana, os olhos dos traders estão voltados para:
Esses dados serão cruciais para determinar se o Federal Reserve continuará com juros elevados (“higher for longer”) ou iniciará um ciclo de afrouxamento monetário.
Reagiu positivamente à queda do dólar e ao aumento da aversão ao risco. Se mantiver-se acima de US$ 4.000, pode buscar os alvos de US$ 4.057 e US$ 4.093, com suporte em US$ 3.910.
Quebrou abaixo da região dos 99,2 pontos, o que sugere fraqueza adicional se os próximos dados forem negativos.
Recuou para a zona de 148,00, com potencial para teste de 146,20 em caso de mais fluxo para ativos seguros.
Caminha para testar 1,0800, com possibilidade de rompimento caso os discursos de Powell sejam dovish.
Altamente volátil, com intervenções do PBOC segurando o nível em torno de 7,30.
A decisão de Trump de aplicar uma tarifa de 100% sobre produtos chineses não é apenas uma medida de retaliação comercial — ela inaugura um novo capítulo na dinâmica cambial global.
O movimento enfraqueceu o dólar, impulsionou o ouro a patamares inéditos, aumentou a volatilidade nos principais pares de moedas e trouxe à tona novamente os riscos geopolíticos como fator central nos preços de ativos.
Enquanto a China responde com firmeza, os mercados aguardam ansiosamente pelos próximos dados macroeconômicos e pelas falas do Federal Reserve. Em meio a esse cenário, o trader que deseja se proteger deve manter disciplina, gestão de risco eficaz e foco nos indicadores-chave.
O forex, mais uma vez, mostra ser o primeiro termômetro das tensões globais. E agora, com uma possível guerra tarifária em curso, a temperatura só tende a subir.