Resumo:O ano de 2025 foi marcado por um protagonismo notável do real brasileiro no cenário emergente. Impulsionado por uma taxa Selic a 15% – o nível mais alto desde 2016 – e pelo consequente influxo de capitais em busca do atrativo carry trade, o BRL foi uma das moedas que mais se valorizou frente ao dólar, acumulando uma apreciação de quase 12% em determinado momento.

Publicado em 11/12/2025
O ano de 2025 foi marcado por um protagonismo notável do real brasileiro no cenário emergente. Impulsionado por uma taxa Selic a 15% – o nível mais alto desde 2016 – e pelo consequente influxo de capitais em busca do atrativo carry trade, o BRL foi uma das moedas que mais se valorizou frente ao dólar, acumulando uma apreciação de quase 12% em determinado momento. Este cenário coloca o investidor brasileiro de forex em uma posição peculiar: por que sair de uma moeda que vem performando tão bem? A resposta reside nos princípios fundamentais de diversificação de risco e na busca por proteção patrimonial. A história econômica do Brasil ensina que fases de vigor cambial podem ser seguidas por reversões bruscas, muitas vezes deflagradas por instabilidades políticas, fiscais ou por uma mudança no ciclo global de juros. Portanto, mesmo diante de um real forte, estratégias inteligentes de alocação em moedas estrangeiras continuam sendo um pilar essencial para carteiras robustas.
Este artigo, baseado em uma análise detalhada de fundamentos econômicos, tendências técnicas e acessibilidade, categoriza as principais moedas globais e emergentes conforme seu potencial frente ao real e o perfil de risco do investidor – conservador, moderado e arrojado. O foco está nos pares BRL/XXX, ou seja, no desempenho direto de cada moeda estrangeira contra o real, guiando o trader ou investidor brasileiro na construção de uma carteira cambial equilibrada e oportunista para 2026.
Nesta categoria, encontram-se divisas com fundamentos sólidos ou dinâmicas de mercado que sugerem um potencial de apreciação frente ao real no curto e médio prazo. São opções que combinam segurança, liquidez ou cenários específicos de alta.
O Dólar Americano (USD) permanece como a pedra angular para a maioria dos perfis. Apesar de ter enfrentado um ano de 2025 difícil, com o índice DXY caindo cerca de 7% e uma pressão política do governo Trump por uma moeda mais fraca, os analistas projetam que essa tendência não deve persistir em 2026. Com a redução das incertezas políticas nos EUA e a perspectiva de que os riscos fiscais e eleitorais no Brasil venham à tona, o dólar encontra espaço para uma recuperação. Tecnicamente, o par USD/BRL operou em um canal estreito entre R$5,30 e R$5,40 no final de 2025, com uma resistência importante em R$5,50. A perda do suporte de R$5,30 poderia sinalizar uma continuação da força do real, mas um rompimento acima de R$5,50 indicaria a retomada da alta do dólar. Sua liquidez altíssima e o status de moeda de reserva global fazem do USD uma escolha obrigatória para investidores conservadores que buscam um hedge contra turbulências domésticas e também uma aposta válida para perfis moderados que anteveem uma reversão da tendência recente.
Para aqueles que priorizam a preservação de valor acima de tudo, o Franco Suíço (CHF) é o ativo por excelência. Moeda clássica de refúgio (safe haven), o CHF é respaldado pela estabilidade política suíça, inflação baixa e um banco central conservador. Embora seus juros sejam insignificantes (por volta de 2%), sua função não é gerar renda, mas sim proteger o capital em momentos de aversão global ao risco. Em um cenário de stress – como pode ser o ano eleitoral brasileiro de 2026 –, o franco tem histórico de valorização rápida frente a moedas emergentes como o real. Tecnicamente, o CHF/BRL manteve-se relativamente estável, cotado na faixa de R$5,8–6,0. Sua atratividade é puramente defensiva, mas crucial para a parte mais conservadora de qualquer carteira.
O Iene Japonês (JPY) apresenta uma dinâmica mais especulativa. Sendo a moeda de financiamento (funding currency) preferencial para operações de carry trade devido aos seus juros próximos de zero, o iene tende a se depreciar em épocas de apetite por risco (quando investidores tomam empréstimos em JPY para comprar ativos como o real) e a se valorizar abruptamente em crises, devido ao repatriamento de capitais. O Banco do Japão também sinaliza um fim gradual da política ultraexpansionista. Para o investidor brasileiro, manter ienes pode ter um custo de carregamento negativo, mas ele se torna uma aposta de alto potencial para perfis moderados a arrojados que acreditam em um cenário de fuga para a qualidade nos mercados globais. Nesse evento, o JPY/BRL pode romper resistências e disparar.
Uma menção de altíssimo risco, mas com um desempenho extraordinário em 2025, é o Rublo Russo (RUB). Paradoxalmente, em meio a sanções e guerra, o rublo foi a moeda que mais se valorizou contra o dólar no primeiro trimestre de 2025, com alta de 31,7%, impulsionado por superávits comerciais monumentais em commodities e juros altos. Embora tenha se estabilizado posteriormente, seu potencial em um cenário de possível desfecho geopolítico positivo é explosivo. No entanto, o acesso é extremamente dificultado por sanções, a liquidez é quase nula e o risco político é máximo. É uma moeda apenas para especuladores profissionais e arrojados, que estejam dispostos a arriscar perdas severas pela chance de ganhos excepcionais em um cenário muito específico.
Este grupo é composto por moedas cujo potencial de movimento frente ao real é considerado limitado ou equilibrado. São opções para diversificação da carteira cambial, sem a expectativa de ganhos expressivos, mas também sem grandes riscos de desvalorização abrupta.
O Euro (EUR) é a principal moeda desta categoria. O Banco Central Europeu (BCE) cortou os juros para 2% em 2025, reduzindo drasticamente o diferencial frente ao Brasil. Embora o bloco europeu ofereça estabilidade e seja uma contrapartida natural ao dólar, seus fundamentos são desafiados por um crescimento modesto e dívidas elevadas em alguns países-membros. Tecnicamente, o EUR/BRL tem se movido em uma faixa lateral, oscilando entre R$6,28 e R$6,55, sem uma tendência definida. É uma moeda de alta liquidez e acessibilidade, recomendada para investidores conservadores e moderados que buscam diluir o risco cambial concentrado no dólar, mas sem esperar por grandes valorizações no horizonte próximo.
A Libra Esterlina (GBP) vive uma fase de ajuste pós-Brexit, com o Banco da Inglaterra reduzindo juros para cerca de 4,0% em 2025 para lidar com uma economia fraca. A libra oferece exposição a um centro financeiro global fora do euro, movendo-se de forma semi-independente. No entanto, é sensível a instabilidades políticas domésticas. Frente ao real, a libra teve uma leve desvalorização em 2025, saindo de aproximadamente R$7,70 para a faixa de R$7,1–7,3. Espera-se que o par GBP/BRL continue oscilando sem um rumo dominante, servindo mais como um instrumento de diversificação para perfis moderados do que como uma aposta direcional clara.
No universo emergente, o Peso Mexicano (MXN) se destaca por sua relativa estabilidade macroeconômica. O Banco do México, porém, executou cortes de juros agressivos em 2024-25, levando a taxa básica a 7,25%, o que reduziu consideravelmente o carry frente ao real. Ainda assim, o México se beneficia da relocalização de cadeias produtivas (nearshoring) e tem fundamentos fiscais razoáveis. Tecnicamente, o MXN/BRL tem se mantido estável, com o real ganhando apenas um leve terreno. É uma opção neutra e de baixa volatilidade comparativa para investidores moderados que desejam exposição a um emergente sólido das Américas.
O Rand Sul-Africano (ZAR) completa este grupo com seu perfil mais volátil. A África do Sur conseguiu controlar a inflação, permitindo cortes de juros, mas sofre com problemas estruturais crônicos de energia e desemprego, além do impacto de tarifas comerciais dos EUA. O par ZAR/BRL tende a refletir o humor geral pelos emergentes e os preços das commodities. No cenário atual, falta um catalisador claro para uma valorização sustentada frente ao real, mas também os riscos parecem precificados. É uma moeta para investidores arrojados que queiram uma exposição diversificada a emergentes, conscientes de que os movimentos podem ser bruscos em ambas as direções.
Aqui estão as moedas que, diante dos atuais fundamentos, tendem a se desvalorizar frente ao real brasileiro. Investidores que buscam ganho cambial devem ser cautelosos com essas divisas.
A Lira Turca (TRY) é o caso mais emblemático de desvalorização crônica. Mesmo com juros nominais estratosféricos (cerca de 40%), a moeda não consegue se sustentar devido à inflação persistentemente alta, intervenções políticas e perda de credibilidade. Em 2025, o dólar saltou de cerca de ₺30 para acima de ₺42, e frente ao real a depreciação foi ainda mais acentuada. A tendência técnica é claramente baixista, sem sinais de reversão. O acesso para brasileiros é difícil e os spreads são altíssimos. É uma moeda apenas para especuladores extremamente arrojados, e mesmo assim mais como uma aposta de timing quase impossível do que como um investimento.
A Rupia Indonésia (IDR) sofre com o ciclo oposto ao do Brasil: seu banco central iniciou cortes de juros em 2025, reduzindo a taxa para 4,75%. Esse movimento, buscando estimular um crescimento fraco, diminuiu o diferencial de carry e colocou a moeda sob pressão. Embora a Indonésia tenha uma economia grande e estável, a rupia não oferece atrativos frente ao real, tendendo a uma desvalorização gradual. É de difícil acesso para o investidor brasileiro e não apresenta um perfil risco-retorno interessante no momento.
Por fim, o Baht Tailandês (THB) é vítima de uma política monetária extremamente frouxa. Com inflação próxima de zero e crescimento pífio, o Banco da Tailândia reduziu os juros para 1,50%, o nível mais baixo em anos. Sem qualquer atrativo de rendimento e com uma economia dependente de um turismo que ainda se recupera lentamente, o baht tem poucos motivos para se valorizar. Em 2025, ele perdeu cerca de 5% frente ao real, e a tendência de baixa moderada deve continuar. É uma moeda com baixa volatilidade, mas também sem qualquer brilho para o investidor brasileiro.
O panorama cambial para 2026 sugere que o real brasileiro parte de uma posição de força, mas cercado de incertezas domésticas que podem reverter os fluxos. A estratégia do investidor de forex deve, portanto, equilibrar essa realidade.
Para o perfil Conservador, o foco deve ser a preservação do capital. Uma alocação majoritária em USD e CHF, com uma fatia menor em EUR, oferece um portfólio defensivo e líquido, preparado para eventuais turbulências no Brasil. Estas moedas agem como um seguro, valorizando-se justamente quando os ativos domésticos mais pressionam.
O investidor Moderado pode buscar um equilíbrio entre proteção e um pouco mais de rendimento/diversificação. A cesta conservadora (USD, CHF, EUR) pode ser complementada com exposições a GBP e MXN. Para aqueles com maior apetite por risco dentro deste perfil, uma pequena posição em JPY pode ser uma aposta interessante como hedge contra uma crise global, aproveitando seu movimento de safe haven.
Já o perfil Arrojado pode destinar uma pequena parcela de sua carteira cambial a apostas especulativas de alto risco e potencial retorno. Isso pode incluir tentar capturar os juros altíssimos da TRY (com consciência do risco cambial avassalador) ou posicionar-se no RUB na expectativa de um desenvolvimento geopolítico positivo. É crucial ressaltar que, mesmo para os arrojados, o grosso da exposição cambial deve permanecer nas moedas de fundamentos sólidos, pois estas são as que de fato protegem em momentos de pânico.
Independentemente do perfil, é fundamental lembrar que o cenário macroeconômico é dinâmico. Os diferenciais de juros, que hoje favorecem fortemente o real, podem se estreitar rapidamente se o BCB iniciar um ciclo de cortes em 2026. Da mesma forma, eventos políticos domésticos e globais podem alterar radicalmente os fluxos de capital. A análise técnica, com seus suportes e resistências, oferece guias valiosos para pontos de entrada e saída, mas a tendência de médio prazo será sempre ditada pelos fundamentos. Portanto, a carteira cambial do investidor brasileiro deve ser tão resiliente quanto diversificada, pronta para navegar tanto na continuidade da força do real quanto em sua eventual reversão.
