Resumo:Nesta manhã de 24 de dezembro de 2025, a véspera de Natal ficará marcada na história dos mercados financeiros por um evento extraordinário: o ouro finalmente rompeu a formidável barreira psicológica de US$ 4.500 por onça, estabelecendo um novo recorde histórico

Publicado em 24/12/2025
Nesta manhã de 24 de dezembro de 2025, a véspera de Natal ficará marcada na história dos mercados financeiros por um evento extraordinário: o ouro finalmente rompeu a formidável barreira psicológica de US$ 4.500 por onça, estabelecendo um novo recorde histórico. Não se trata de um movimento isolado, mas do ápice de uma verdadeira frenesi nos metais preciosos que abrange também a prata e a platina, todos atingindo máximas inéditas. Este fenômeno ocorre em um contexto de liquidez reduzida típica do fim do ano, mas impulsionado por forças macroeconômicas e geopolíticas profundas. Para o investidor brasileiro, esse rally global tem um duplo significado: enquanto a cotação internacional em dólar celebra novos patamares, o valor do ouro em reais é diretamente impactado pela também volátil taxa de câmbio. No mesmo dia em que o dólar comercial abriu a R$ 5,52, a conversão do ouro recorde para a moeda nacional apresenta um cenário de oportunidades e alertas. Este artigo analisa em detalhes os motores por trás da valorização do ouro, suas projeções, o comportamento dos outros metais e, crucialmente, o que esse movimento significa para o mercado doméstico brasileiro.
Os dados do pregão de hoje são inequívocos e históricos. Por volta das 08:03 GMT, o ouro spot (XAU/USD) atingiu o pico estratosférico de US$ 4.525,19 por onça, antes de recuar levemente para negociar em torno de US$ 4.481,90. Os contratos futuros de ouro dos EUA (vencimento em fevereiro) acompanharam o movimento, pairando próximo a US$ 4.509,20. A simples ruptura do nível de US$ 4.500 já seria um marco significativo, mas a amplitude do dia — com uma faixa de negociação que se estendeu de aproximadamente US$ 4.471,46 a US$ 4.525,96 — revela a intensidade e a volatilidade do movimento. Este comportamento é amplificado pela liquidez reduzida (“thin trading”) característica da véspera de Natal, onde menos participantes no mercado podem fazer com que os movimentos de preços sejam mais exagerados em ambas as direções. A conquista deste novo patamar não é um evento aleatório; é o ponto culminante de um ano excepcional para o metal amarelo, que acumula uma valorização de mais de 70% em 2025, seu maior ganho anual desde 1979. Este rally coloca o ouro firmemente no centro das atenções como o ativo de destaque do encerramento do ano.
A pergunta que todos os investidores fazem é: por que o ouro está subindo com tanta força? A resposta reside em uma rara convergência de fatores macroeconômicos, geopolíticos e estruturais que criaram uma tempestade perfeita para os metais preciosos. Em primeiro lugar, a demanda por ativos de refúgio (“safe-haven”) retomou seu protagonismo. Tensões geopolíticas persistentes e incertezas no comércio global, incluindo a guerra comercial entre EUA e China e a instabilidade em regiões como a Venezuela, levam investidores a buscar a proteção tradicional do ouro. Em segundo lugar, as expectativas de cortes de juros pelo Federal Reserve (Fed) em 2026 estão sendo precificadas pelo mercado. Como o ouro não paga juros (é um ativo “não rendoso”), ele se torna mais atrativo quando as taxas de juros futuras esperadas caem, reduzindo o seu “custo de oportunidade”. Analistas citam que o mercado precifica cerca de dois cortes adicionais pelo Fed em 2026. O terceiro motor é a fraqueza histórica do dólar americano. O índice DXY, que mede a força do dólar frente a uma cesta de moedas, está a caminho de seu pior ano desde 2003, com uma queda de aproximadamente 9,9% em 2025. Um dólar mais fraco torna as commodities precificadas na moeda, como o ouro, mais baratas para compradores de outras nacionalidades, estimulando demanda.
O quarto fator é de natureza mais estrutural e tem sido um pilar de sustentação: as compras robustas por bancos centrais e as narrativas de desdolarização. Diversas nações, especialmente economias emergentes, têm aumentado agressivamente suas reservas em ouro, buscando diversificar suas carteiras e se proteger contra riscos cambiais e geopolíticos. Por fim, o quinto elemento é técnico e sazonal: a liquidez reduzida de fim de ano atua como um amplificador. Com menos traders ativos e menos ordens no livro, os movimentos impulsionados pelos fundamentos listados acima podem ganhar uma magnitude exagerada, explicando tanto a subida vertiginosa quanto a volatilidade intradia observada.
O fenômeno de valorização não é um solo do ouro, mas um concerto completo dos metais preciosos. A prata (XAG/USD), frequentemente vista como o “ouro do pobre” mas com fortes aplicações industriais, está performando ainda melhor. Nesta sessão, a prata atingiu um recorde histórico de US$ 72,70 por onça, negociando posteriormente em torno de US$ 72,32. Seu desempenho anual é estelar, com ganhos superiores a 150% no ano. A platina (XPT/USD), outro metal crucial para a indústria automotiva, também escreveu sua página na história, tocando o pico de US$ 2.377,50 antes de ajustar para cerca de US$ 2.312,70. A platina acumula valorização de aproximadamente 160% em 2025. Até o paládio, após um período menos expressivo, alcançou seu preço mais alto em três anos, próximo a US$ 1.919,17. Este movimento conjunto sinaliza uma confiança generalizada na classe de ativos de commodities metálicas, apoiada não apenas por fatores de refúgio, mas também por perspectivas de recuperação industrial, tensões na oferta e uma rotação de capital de outros segmentos do mercado. A prata, em particular, beneficia-se de sua inclusão na lista de minerais críticos dos EUA e do crescimento da demanda por tecnologias verdes, como painéis solares e veículos elétricos.
Diante de um rally tão vigoroso, a pergunta sobre a sustentabilidade dos preços é inevitável. A comunidade analítica, no entanto, mantém um tom predominantemente otimista, embora com ressalvas sobre a volatilidade de curto prazo. Estratégias de bancos importantes e analistas de mercado apontam para alvos ainda mais ambiciosos. A Société Générale, por exemplo, mantém sua projeção de que o ouro pode alcançar US$ 5.000 por onça até o final de 2026, um movimento que representaria um novo salto significativo a partir dos níveis atuais. O Goldman Sachs também apresenta uma visão construtiva, projetando que o metal pode chegar a aproximadamente US$ 4.900 até dezembro de 2026. A análise técnica presente no documento fornece níveis-chave a serem observados. A resistência imediata e novo foco está na região de US$ 4.575, que representa o alvo de um movimento medido (“measured move”) a partir da consolidação anterior. Um rompimento sustentado acima de US$ 4.500 agora é visto como um gatilho para testes posteriores. No lado dos suportes, a área entre US$ 4.300 e US$ 4.400 (o pico anterior recorde) deve agora servir como um primeiro nível de defesa importante para os bulls (compradores), seguido por um suporte mais sólido em US$ 4.200. Os analistas enfatizam que, embora os indicadores técnicos possam sugerir condições de sobrecompra no curto prazo, os fundamentos macroeconômicos sólidos podem manter a tendência de alta intacta. A recomendação tática para traders é considerar compras em recuos fortes, sempre gerenciando o risco com cuidado, especialmente em um ambiente de liquidez sazonalmente reduzida.
Para o investidor ou consumidor brasileiro, a cotação internacional é apenas uma parte da história. O preço final do ouro no mercado doméstico é uma função direta da cotação do dólar comercial. Com o dólar negociando a R$ 5,52 na abertura desta quarta-feira, o novo recorde do ouro em dólares se traduz em valores igualmente elevados em reais. Um cálculo simples ilustra o impacto: uma onça troy de ouro, equivalente a aproximadamente 31,1 gramas, valeria, ao preço de pico de US$ 4.525,19, cerca de R$ 24.979,05 apenas pelo componente internacional (US$ 4.525,19 * R$ 5,52). A este valor, somam-se os prêmios de mercado local, impostos como o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para investimentos, e os custos de fabricação e lucro no caso de joias e barras físicas. O documento anexo traz um vislumbre do mercado indiano, que possui dinâmicas similares às brasileiras, com ouro de 24 quilates sendo cotado a preços recordes em rúpias. No Brasil, a tendência é que o ouro em reais acompanhe de perto essa trajetória de alta, podendo atingir novos patamar
